Quando me fizeram, esqueceram da dor.
Esqueceram que o mundo é bom e ruim
E depois de feito chamaram-me de romântico
E me colocaram no mundo dentro de uma redoma
E me chamaram de lunático!
Resguardado do mesmo amor que fui constituído
Tiraram-me a rosa
Tiraram-me a terra e a semente
Tiraram-me, apressadamente, do ventre
Envolveram-me de cuidados, hipocrisia e carinho
E não me deixaram ser gente.
Então, quebrei a redoma
Rompi com o absurdo que me vestia
Fui atrás da dor e do desprezo
Fui atrás das dúvidas com fervor
E encontrei as respostas numa flor
Vi-me diante do mais impossível amor
E sofri!
Não gritei, pois não tinha fôlego
Não chorei, pois não tinha lágrimas
Nem tombei, pois não tinha chão
Simplesmente, sorri...
Pois estava sofrendo e isto era diferente
Começava a ser visceral...
Sentia o que os outros sentem.
E pela flor lembrei-me da rosa
Rosa que nunca havia visto
E a flor que de tão bela se tornou frágil
Que de tão frágil chorou...
Chorou, pois em mim reconheceu o amor
O mesmo amor que, por ela, me toma
E chorou por não ser compreendida
A flor que se apaixonou pelo romântico que saiu duma redoma.